terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Carla Moura, psicóloga, especialista em sexologia (Vera)

Tenho um conselho valioso para dar aqui: se você acabou de conhecer um rapaz, ficou com ele algumas vezes e já está começando a imaginar o dia do seu casamento e o nome dos seus filhos, pare agora e me escute! Na próxima vez que encontrá-lo, tente disfarçadamente descobrir como é sua barriga.

Se for musculosa, torneada, estilo tanquinho, fuja! Comece a correr agora e só pare quando estiver a uma distância segura. É fria, vai por mim. Homem bom de verdade precisa, obrigatoriamente, ostentar uma barriguinha de chope. Se não, não presta. Estou me referindo àqueles que, por não colocarem a beleza física acima de tudo (como fazem os malditos metrossexuais), acabaram cultivando uma pancinha adorável. Esses, sim, são pra manter por perto. E eu digo por quê.

Você nunca verá um homem barrigudinho tirando a camisa dentro de uma boate e dançando como um idiota, em cima do balcão. Se fizer isso, é pra fazer graça pra turma e provavelmente será engraçado, mesmo. Já os `tanquinhos farão isso esperando que todas as mulheres do recinto caiam de amores - e eu tenho dó das que caem. Quando sentam em um boteco, numa tarde de calor, adivinha o que os pançudos pedem pra beber? Cerveja! Ou coca-cola, tudo bem também. Mas você nunca os verá pedindo suco. Ou, pior ainda, um copo com gelo, pra beber a mistura patética de vodka com `C-light´ que trouxe de casa.

E você não será informada sobre quantas calorias tem no seu copo de cerveja, porque eles não sabem e nem se importam com essa informação. E o quesito comida, os homens com barriguinha também não deixam a desejar. Você nunca irá ouvir um ah, amor, `Quarteirão´ é gostoso, mas você podia provar uma `McSalad´ com água de coco. Nunca! Esses homens entendem que, se eles não estão em forma perfeita o tempo todo, você também não precisa estar. Mais uma vez, repito: não é pra chegar ao exagero total e mamar leite condensado na lata todo dia! Mas uma gordurinha aqui e ali não matará um relacionamento. Se ele souber cozinhar, então, bingo! Encontrou a sorte grande, amiga. Ele vai fazer pra você todas as delícias que sabe, e nunca torcerá o nariz quando você repetir o prato. Pelo contrário, ficará feliz.

Outra coisa fundamental: Homens barrigudinhos são confortáveis! Experimente pegar a tábua de passar roupas e deitar em cima dela. Pois essa é a sensação de se deitar no peito de um musculoso besta. Terrível!

Gostoso mesmo é se encaixar no ombro de um fofinho, isso que é conforto. E na hora de dormir de conchinha, então? Parece que a barriga se encaixa perfeitamente na nossa lombar, e fica sensacional.

Homens com barriga não são metidos, nem prepotentes, nem donos do mundo. Eles sabem conquistar as mulheres por maneiras que excedem a barreira do físico. E eles aprenderam a conversar, a ser bem humorados, a usar o olhar e o sorriso pra conquistar. É por isso que eu digo que homens com barriguinha sabem fazer uma mulher feliz.

CARLA MOURA
PSICÓLOGA, ESPECIALISTA EM SEXOLOGIA

sábado, 19 de dezembro de 2009

Let's face it

         Pergunta-se a alguém porque está no Facebook e a primeira resposta é: "porque me interessa profissionalmente, para estabelecer contactos". Como - um tipo é dentista (ou fotógrafo, ou canalizador ou advogado) e angaria clientes no Facebook? "Não, claro, que não!", respondem logo. Então? Porque têm negócios ou produtos que lhes interessa divulgar - resposta nº 2. Ah, então é uma rede de comerciantes, que aproveitam a publicidade grátis? "Bem, também não", respondem, já levemente embaraçados. Afinal, insisto, é porquê? "Por exemplo: serve para encontrar os antigos colegas da Primária ou do Liceu" - resposta nº 3, já levemente irritada. (E eu fico a pensar para comigo: interessa-me assim tanto encontrar os antigos colegas do Liceu ou da Primária? Francamente, não. Eles que me perdoem, mas a vida não se faz a andar para trás). Passemos, então, a outro tipo de dúvidas que a minha curiosidade gostaria de ver esclarecidas.
F tem 1243 'amigos' e 'amigas' registadas - uma multidão (e eu que detesto multidões...).
- Tens mesmo 1243 amigos?
- Não, claro que não!
- Então porque estão registados como teus amigos?
- Porque pediram e eu os aceitei.
- Se os aceitaste é porque os queres como amigos: tens de lhes escrever de vez em quando, mandar notícias, responder quando eles escrevem...
- Só respondo quando quero. E à maior parte não respondo.
- Não consigo perceber...
- O quê?
- É que toda a gente diz o mesmo, quando pergunto isto: que só têm essas legiões de amigos porque lhes pediram e eles aceitaram. Parece que ninguém pede, toda a gente se limita a aceitar; e, depois, todos juram que só respondem a alguns. Sendo assim, não consigo entender como e para quê, têm esses 'amigos todos'.
Fim de conversa. Já fiz esta conversa várias vezes, já tive esta discussão com amigos inúmeras vezes e ninguém sai da sua: eles do Facebook, eu da minha perplexidade. Na verdade, só há uma resposta que eu entenderia: estão no Facebook porque não conseguem enfrentar a solidão e vivemos um tempo em que, quanto mais se comunica, quanto mais se fala, quanto mais se apregoa, mais a solidão é funda e irremediável. E o Facebook é o instrumento perfeito para criar a ilusão de que não se está sozinho, mas acompanhado por uma vastidão de amigos. Basta escolher um 'perfil', carregar num botão e esperar que um desconhecido nos aceite como amigo. E, se esse não aceitar, há mais uns milhões, o universo todo, para tentar de novo. Quem disse que é difícil fazer amigos? Que é difícil encontrar pessoas interessantes? Que, hoje em dia, não há tempo para conhecer pessoas novas? Que as relações humanas são complicadas? Eis o instrumento que veio pôr fim a tudo isso. Agora, com o Facebook, só está só quem quer.
Essa explicação eu entenderia: é séria, é real, é humilde. Só que, essa, ninguém a dá. Menos ainda se atreverão a confessar outro tipo de razões pelas quais eu desconfio que muita dessa Humanidade perde horas preciosas das suas vidas amarrada à coisa (embora todos jurem também que raramente lá estão). As razões inconfessadas são estas (e isto é uma teoria muito pessoal): a) - para arranjar parceiros amorosos ou apenas sexuais; b) - para se exibirem a si mesmos, às suas vidas, às fascinantes personagens que todos se imaginam ser; e c) - para vasculharem a vida dos outros.
Vá, venham, caiam-me todos em cima. Estou aqui para dar o peito às balas dos 'amigos'. É verdade que eu sou, por natureza, o oposto da filosofia da coisa: detesto falar ao telefone, só abro o correio uma vez por mês, só respondo a mails de trabalho ou aos dos verdadeiros amigos que conheço, de carne, osso e alma, odeio expor a minha vida (já tão devassada, inventada e caluniada em blogues que por aí circulam) e interessa-me nada a vida privada dos outros. Gosto de fazer amigos de outra maneira, de ter encontros de outra forma, por acaso olhos nos olhos (embora haja gente que consegue mentir olhos nos olhos e tranquilamente). E não consigo simplesmente entender essa fórmula de as amizades circularem em rede, tipo-D. Branca, 'temos x amigos em comum, vamos ser amigos também', numa progressão geométrica imparável e absurda, até ao ponto em que o universo inteiro acabará amigo, todos uns dos outros, nesse admirável pesadelo novo do Facebook.
Vocês, os 'amigos' do Facebook, conseguiram transformar em realidade o pesadelo do Orwell e o sonho de todas as polícias: montaram uma rede onde todos se cruzam e expõem, onde é fácil descobrir o paradeiro de cada um, mesmo quando ele não quer, onde se estabelecem relações amorosas por magnetismo virtual, se desvendam traições e adultérios, se partilham segredos no meio da multidão, se revelam as fotografias e as andanças que deveriam ser íntimas, e onde se faz tudo isso com uma compulsão de drogados, viciados em voyeurismo e exibicionismo. Vocês, caros 'amigos' e 'amigas', transformaram o Big Brother numa realidade planetária. Mas com a diferença de que não é ele que vos vigia contra vontade, mas vocês que se lhe oferecem voluntariamente.
Era de esperar que aqui chegássemos: os sinais estavam todos lá e cada vez mais nítidos. Os dois barómetros principais, para quem tenha estado atento, foram a crescente profusão das revistas ditas 'sociais' e a crescente audiência dos programas de TV ditos 'populares'. Os primeiros transformaram inutilidades em celebridades, os segundos aliciaram o 'povo' a conquistar os seus minutos de fama, exibindo-se para um catálogo de vícios onde os degradaram a um extremo indecoroso, convencendo-os de que eram ídolos e corajosos. Juntos, as revistas sociais e os programas populares de TV levaram a pobre gente a acreditar que eles próprios podiam transformar-se na notícia, saltando de espectadores para actores principais. Não pelo que fazem, pelo que são, pelo mérito que têm, pelo exemplo ou pelo valor que dão à sociedade, mas exactamente pelo contrário: porque vão a festas, porque namoram X ou Y, porque fizeram um implante de silicone, ou porque tiveram um filho (e vendem a gravidez, o parto, a saída da maternidade, o primeiro banho, o baptizado, a primeira fralda borrada), ou então porque se tornaram 'vedetas' na televisão, em programas onde se dispuseram a ser acorrentados, chicoteados ou filmados 24 horas por dia, retrete incluída. E assim se tornaram eles próprios na notícia.
Mas como não cabem todos nas revistas ou nos programas televisivos, e como todos queriam beber da mesma água, os sobrantes encontraram no Facebook o instrumento exactamente adequado a esta ânsia de protagonismo, a esta irresistível compulsão de partilha que a todos reanima, com um sopro de vida como há muito não varria o mundo. Está bem, concedo que, pelo que me tenho apercebido e no que a Portugal diz respeito, o clube está acima do nível das revistas sociais ou do lixo televisivo: há para ali alguns intelectuais, ou auto-nomeados como tal, bastante gente perfeitamente frequentável noutras circunstâncias, muita gente interessante e outra desarmante, e muitíssimas mulheres que não são nada de deitar fora, sob vários aspectos (e, sobretudo, muita outra gente que só lá está porque os outros estão e têm medo de não serem 'modernos', ficando de fora). E confesso também que é isso o que mais me preocupa: será que sobra alguém para fora, onde também continua a haver vida, embora sob outra forma? Será que sobra alguém que se possa e valha a pena encontrar num café, num cinema, numa praia, num aeroporto? Ou vai tudo viver, envelhecer e morrer agarrado ao Facebook, sob o desagradável olhar de todos os outros? E a seguir, o que se seguirá?
Ó desgraçados, voltem antes que seja tarde!

in "Expresso", Miguel Sousa Tavares

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Não Estás Deprimido!

Não estás deprimido, estás distraído.

Distraído em relação à vida que te preenche, distraído em relação à vida que te rodeia.
Não estás deprimido, estás distraído.
Por isso acreditas que perdeste algo, o que é impossível, porque tudo te foi dado. Não fizeste um só cabelo de tua cabeça, portanto não és dono de coisa alguma.
Além disso, a vida não te tira coisas: te liberta de coisas, alivia-te para que possas voar mais alto, para que alcances a plenitude.
Do útero ao túmulo, vivemos numa escola; por isso, o que chamas de problemas são apenas lições. Não perdeste coisa alguma: aquele que morre apenas está adiantado em relação a nós, porque todos vamos na mesma direção.
Não existe a morte, apenas a mudança.
És movido pela força natural da vida. A mesma que me ergueu quando caiu o avião que levava minha mulher e minha filha;a mesma que me manteve vivo quando os médicos me deram três ou quatro meses de vida.
Deus te tornou responsável por um ser humano, que és tu. Deves trazer felicidade e liberdade para ti mesmo.
E só então poderás compartilhar a vida verdadeira com todos os outros.
Lembra-te: “Amarás ao próximo como a ti mesmo.”
Reconcilia-te contigo, coloca-te frente ao espelho e pensa que esta criatura que vês, é uma obra de Deus, e decide neste exato momento ser feliz, porque a felicidade é uma aquisição.
Aliás, a felicidade não é um direito, mas um dever; porque se não fores feliz, estarás levando amargura para todos os teus vizinhos.
Não estás deprimido, estás desocupado.
Ajuda a criança que precisa de ti, essa criança que será sócia do teu filho. Ajuda os velhos e os jovens te ajudarão quando for tua vez.
Aliás, o serviço prestado é uma forma segura de ser feliz, como é gostar da natureza e cuidar dela para aqueles que virão.
Dá sem medida, e receberás sem medida.
E não te deixes enganar por alguns maus, por alguns homicidas e suicidas.
O bem é maioria, mas não se percebe porque é silencioso.
Uma bomba faz mais barulho que uma carícia, porém, para cada bomba que destrói há milhões de carícias que alimentam a vida.
* * *
Enfrentamos momentos em que os pensamentos depressivos, desencorajadores parecem desejar tomar conta de tudo.
Os ombros caem… A voz baixa de tom… Os olhos já não se abrem tanto...
Tais momentos, porém, devem durar apenas o tempo da reflexão necessária, o tempo da conquista da sabedoria e, logo depois, devem ser seguidos por nova atitude.
Uma nova atitude de renovação, de mudança, que nos faz trilhar por novos caminhos, com novas forças.
De nada adianta se entregar à inércia emocional. De nada adianta a autopiedade.
Não são caminhos, são paredes que construímos à nossa frente, impedindo a nós mesmos de prosseguir.
Não nos permitamos distrair pelas mazelas da vida, esquecendo tão facilmente o bem que recebemos sempre.
Não nos deixemos desocupar, abrindo, através da hora vazia, portas e janelas para ondas de pensamento deletério que flutuam no ar.
A desocupação, a inutilidade são polos atraentes de influências perigosas, pelas quais pagaremos alto e amargo custo.

Afastemos a depressão de nosso coração. Abracemos a vida e o renascer diário com todo nosso amor.


Facundo Cabral

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Eu Te Amo...

EU TE AMO NÃO DIZ TUDO!


O cara diz que te ama, então tá! Ele te ama.

Sua mulher diz que te ama, então assunto encerrado.

Você sabe que é amado porque lhe disseram isso, as três palavrinhas mágicas.

Mas saber-se amado é uma coisa, sentir-se amado é outra, uma diferença de quilômetros.

A demonstração de amor requer mais do que beijos, sexo e palavras.

Sentir-se amado é sentir que a pessoa tem interesse real na sua vida, que zela pela sua felicidade, que se preocupa quando as coisas não estão dando certo, que coloca-se a postos para ouvir suas dúvidas e que dá uma sacudida em você quando for preciso.

Sentir-se amado é ver que ela lembra de coisas que você contou há dois anos atrás, é vê-la tentar reconciliar você com seu pai, é ver como ela fica triste quando você está triste e como sorri com delicadeza quando diz que você está fazendo uma tempestade em copo d’água.

Sentem-se amados aqueles que perdoam um ao outro e que não transformam a mágoa em munição na hora da discussão...

Sente-se amado aquele que se sente aceito, que se sente inteiro.

Sente-se amado aquele que tem sua solidão respeitada, aquele que sabe que tudo pode ser dito e compreendido.

Sente-se amado quem se sente seguro para ser exatamente como é, sem inventar um personagem para a relação, pois personagem nenhum se sustenta por muito tempo.

Sente-se amado quem não ofega, mas suspira; quem não levanta a voz, mas fala; quem não concorda, mas escuta.

Mário Quintana

A Águia e o Pardal

O sol anunciava o final de mais um dia e lá, entre as árvores, estava Andala, um pardal que não se cansava de observar Yan, a grande águia. Seu vôo preciso, perfeito, enchia seus olhos de admiração. Sentia vontade em voar como a águia, mas não sabia como o fazer. Sentia vontade em ser forte como a águia, mas não conseguia assim ser. Todavia, não cansava de segui-la por entre as árvores só para vislumbrar tamanha beleza... Um dia estava a voar por entre a mata a observar o vôo de Yan, e de repente a águia sumiu da sua visão. Voou mais rápido para reencontrá-la, mas a águia havia desaparecido. Foi quando levou um enorme susto: deparou de uma forma muito repentina com a grande águia a sua frente. Tentou conter o seu vôo, mas foi impossível, acabou batendo de frente com o belo pássaro. Caiu desnorteado no chão e quando voltou a si, pode ver aquele pássaro imenso bem ao seu lado observando-o. Sentiu um calafrio no peito, suas asas ficaram arrepiadas e pôs-se em posição de luta. A águia em sua quietude apenas o olhava calma e mansamente, e com uma expressão séria, perguntou-lhe:


- Por que estás a me vigiar, Andala?

- Quero ser uma águia como tu, Yan. Mas, meu vôo é baixo, pois minhas asas são curtas e vislumbro pouco por não conseguir ultrapassar meus limites.

- E como te sentes amigo sem poder desfrutar, usufruir de tudo aquilo que está além do que podes alcançar com tuas pequenas asas?

- Sinto tristeza. Uma profunda tristeza. A vontade é muito grande de realizar este sonho...

O pardal suspirou olhando para o chão... E disse:

- Todos os dias acordo muito cedo para vê-la voar e caçar. És tão única, tão bela. Passo o dia a observar-te.

- E não voas? Ficas o tempo inteiro a me observar? Indagou Yan.

- Sim. A grande verdade é que gostaria de voar como tu voas... Mas as tuas alturas são demasiadas para mim e creio não ter forças para suportar os mesmos ventos que, com graça e experiência, tu cortas harmoniosamente...

- Andala, bem sabes que a natureza de cada um de nós é diferente, e isto não quer dizer que nunca poderás voar como uma águia. Sê firme em teu propósito e deixa que a águia que vive em ti possa dar rumos diferentes aos teus instintos. Se abrires apenas uma fresta para que esta águia que está em ti possa te guiar, esta dar-te-á a possibilidade de vires a voar tão alto como eu. Acredita!

E assim, a águia preparou-se para levantar vôo, mas voltou-se novamente ao pequeno pássaro que a ouvia atentamente:

- Andala, apenas mais uma coisa: Não poderás voar como uma águia, se não treinares incansavelmente por todos os dias. O treino é o que dá conhecimento, fortalecimento e compreensão para que possas dar realidade aos teus sonhos. Se não pões em prática a tua vontade, teu sonho sempre será apenas um sonho. Esta realidade é apenas para aqueles que não temem quebrar limites, crenças, conhecendo o que deve ser realmente conhecido. É para aqueles que acreditam serem livres, e quando trazes a liberdade em teu coração poderás adquirir as formas que desejares, pois já não estarás apegado a nenhuma delas, serás livre! Um pardal poderá, sempre, transformar-se numa águia, se esta for sua vontade. Confia em ti e voa, entrega tuas asas aos ventos e aprende o equilíbrio com eles. Tudo é possível para aqueles que compreenderam que são seres livres, basta apenas acreditar, basta apenas confiar na tua capacidade em aprender e ser feliz com tua escolha!



Autor Desconhecido

terça-feira, 3 de novembro de 2009

"Morte ao Sol"

Eu gosto da Carla Bruni. Especialmente, gosto muito do primeiro disco da Carla Bruni. Eu gosto muito do Rui Reininho e das letras dos GNR, especialmente daquelas que não fazem sentido nenhum.  Porque não fazem sentido nenhum. E não sei porque nunca ninguém lhe perguntou qual é o método de composição dele. Aqueles versos e a métrica, tudo aquilo é fantástico. Ia adorar saber o que ele pensa. Oiçam Morte ao Sol ou Pronúncia do Norte, deitados ao lado de alguém de quem gostem muito e, se possível, depois de terem fumado um piriri.  Se a companhia for boa terão um grande momento porque tudo aquilo é muito, muito à frente. E felizmente não tenho explicações para gostar tanto. Como não tenho explicação para gostar da maioria das coisas que gosto, ou para gostar sempre desalmadamente das pessoas da minha vida. Mesmo quando essas pessoas deixam de gostar de mim. E isso acontece, sim.
Para isto dos nossos amores, de entender bem o porquê dos nossos amores, fazemos imensas perguntas existenciais quando somos mais novos e depois se tivermos juízo,  ao longo da vida e sempre que coisas estranhas voltem a acontecer, aprendemos a deixar-nos levar, caladinhos que nem um rato e a ouvir de joelhos o Chet Baker. O Chet Baker que sabia muito bem o que é ficar sem Norte.  O amor passa a ser, para nosso bem, igualzinho àquela música, uma espécie de  Let´s get lost , isto é, um vale tudo menos tirar olhos.
Quem ama como deve ser, sabe que o amor é bom  quando é uma perdição, quando o amor é uma gula e um desejo e uma luxúria e preguiça e vaidade e é também mais coisas que as palavras não dizem, mas que devem estar todas naquela representação do Bosch dos Sete Pecados Capitais.
Uma vez, um amigo meu disse-me que eu precisava ser mais organizadinha na minha escrita.  Sei que sim, mas como ainda não sou, terão  o direito de  achar que estou maluca, se vos  disser que também posso morrer de vontade de uma feijoada da mesma maneira e tanto, como morro de vontade de alguém de quem goste, principalmente se estou a fazer dieta.  Pessoas bem amadas comem que se desunham,  ou então não comem nada, mas andam sempre muito, muito felizes. E a felicidade é uma coisa que interessa tanto como o excesso e o excesso não se compadece com dietas e as pessoas que fazem dietas- e bebem Coca Zero -  são as mesmas que dizem que não são ciumentas.
Pronto, finalmente chegámos. E alguém que não ande a tomar comprimidos estará interessado em pessoas que dizem, normalmente muito alto: Ai eu cá não sou ciumenta(o?).  Olhem, então na minha vida é assim: Quem não for excessivo a comer e no amor pode sair logo.  E quem não tiver já morrido de ciúmes muitas vezes na vida, e quem não for ficar verde de ciúmes meus, ora essa, idem.
O amor não é uma coisa light nem limpinha. O amor não obedece aos controleiros da ASAE. Eu quero ciúmes e cenas para depois fazer as pazes com o meu amor. Pessoínhas muito politicamente correctas, que bebem Coca Zero e comem saladas são imediatamente empandeiradas. E isto não se trata de um fundamentalismo bacoco. Acontece-me. Sou assim. Acabo sempre a morrer de ciúmes dos excessivos e comilões. Os que no amor navegam sem bússola e gostam de carne em sangue. Os que choram baba e ranho e andam sempre com Kleenexes porque complicam tudo e se angustiam com a quantidade de outros seres maravilhosos, lindos e interessantes que cruzam as nossas vidas diariamente.
Normalmente os muito ciumentos, como eu, têm um problema. Aliás têm vários. Mas o principal é a  mistura explosiva de egotismo, insegurança e imaginação.  Que nos torna especialmente nojentinhos e tortuosos e com dores que normalmente vão desde as articulações à raiz dos cabelos.
O Caetano Veloso, ciumento confesso explica tudo muito bem explicadinho nos versos daquela outra música brilhante, cantada pela Elza Soares (olha outra), O ciúme dói nos cotovelos, na raiz dos cabelos, gela a sola dos pés e depois ainda completa com uma tal de luz branca que se acende no umbigo. Ora todos nós, ciumentos confessos, sabemos muito bem o que é essa luzinha branca esquisita, que se acende no nosso umbigo egocêntrico, quando estamos à beira de uma avalanche de ciúmes. E não é bom, não é, não é, não é. É horrível, incapacitante e burro. Se há coisa que o ciúme é, é burro.
Outro dia, atacadíssima,  acabei a deambular pela Avenida Ataúlfo de Paiva, às 23.42 h, sem querer saber dos pivetes que tentavam, com dedicação sem precedentes, parar-me para  me engraxar as Havaianas. Nem desconfiei, quis lá saber que fosse humanamente impossível engraxar Havaianas, maluca de todo, porque o meu amor se estava a apaixonar, notem,  se estava a apaixonar -  o problema não era ele já estar apaixonado,  era o caminho, o estar a, o momento espectacular em que se está quase, e a beber gins tónicos,  mas ainda não – por outra alminha. E o pior é que era uma alminha gira, inteligente e com mamas verdadeiras e na minha cabeça deviam estar já a discutir, há uma hora e tal,  a vanguarda cinematográfica dos anos 20 e O Couraçado Potemkin, do Eisenstein, o que só os poderia levar a um lugar qualquer com uma cama redonda com colchão de água, uma vista espectacular para o Oceano Atlântico e as Ilhas Cagarras. Tenho dias que não me aguento... Será  que a Carla Bruni é ciumenta?
Publicado na revista do i, Nós Ciumentos
 por Mónica Marques, autora do blog "sushileblon2.blogspot.com", vive no Rio de Janeiro e publicou recentemente o seu primeiro livro Transa Atlântica

domingo, 4 de outubro de 2009

Não Há Quase Ninguém Em Que Possamos Confiar

Se pensarmos nisso, olharmos para o passado ou tentarmos recordar-nos, é provável que acabemos por descobrir que é raro existir alguém que não ponha um ideal ou uma entidade bastante impessoal e abstracta acima das suas relações com as outras pessoas.
Esse nobre conceito é reiterado espontaneamente em todos os tipos de situações e não só é aceite como também desperta reacções elogiosas e de admiração. As pessoas que o manifestam são geralmente aplaudidas como exemplos de empenho, abnegação, altruísmo e até lealdade.
É muito provável ouvi-lo também, com variações, da boca de futebolistas, políticos e guerrilheiros e, obviamente, de nacionalistas e religiosos de todas as crenças, cuja razão de ser é essa mesma.
Eu, por outro lado, considero-a uma afirmação perturbadora, para não dizer aberrante, e faz-me imediatamente desconfiar do seu autor. Essas palavras implicam sempre que qualquer coisa, frequentemente algo que não existe ou é, no máximo, intangível ou invisível, está acima de tudo o resto e, naturalmente, das outras pessoas: Deus ou a Igreja, a Espanha, a Catalunha, a empresa, o partido, a ideologia, o Estado, a revolução, o comunismo, o fascismo, o sistema capitalista, a justiça, a lei, a língua, esta ou aquela instituição, uma escola, um jornal, um banco, a coroa, a república, o exército, um nome, este ou aquele canal de TV, determinada marca, o Barcelona ou o Real Madrid, a minha família, os meus princípios, o meu país.
Tudo, do grandioso ao trivial, pode ser considerado acima de meras pessoas e os que aderem a essa crença não hesitam em sacrificar ou trair indivíduos em nome daquilo que consideram "sagrado" ou "a Causa", sejam eles um ideal, uma quimera ou, mais provavelmente, uma fantasia incorpórea.
A afirmação absolutista aplica-se a tudo o que excite a fantasia do idiota do momento: "o ancestral povo basco", o "Rule Britannia," o "Deutschland über alles", a "grande mãe-pátria russa" ou o departamento do Tesouro, o "The Times", o "Le Monde", o Manchester United, a Juventus, a monarquia, a Constituição, a BBC, o papado, a revolução cultural, não esquecendo, claro, "o povo soberano" e o nome de qualquer das empresas multinacionais ou locais.
Esta expressão é normalmente rematada por outra semelhante, ainda mais explícita: "O povo passa e as instituições ficam" - como se estas, da Igreja ao Atlético de Bilbao, não fossem produto do trabalho ou da invenção das pessoas e não existissem, de facto, para as servir em vez do contrário.
A verdade é que há já demasiados séculos que somos encorajados a acreditar que estamos todos ao serviço de algo intangível cuja perpetuidade tem precedência sobre nós. Não é por isso assim tão estranho que essas afirmações categóricas e vazias gozem de tão magnífica reputação, nem que aqueles que deixam de as subscrever sejam tratados como se tivessem peste.
Quer isso dizer que não está pronto a sacrificar tudo pela empresa? Que é um soldado que não está pronto a morrer pelo seu país, sejam quais forem as circunstâncias? Um revolucionário que se recusa a trair os vizinhos? Um crente que opta por renunciar à fé em vez de aceitar o martírio? Um futebolista que prefere aceitar um pacote financeiro suculento a ficar no clube que o formou? Eis exemplos de um egoísta, um cobarde, um vira-casacas, um apóstata e um interesseiro. Qualquer pessoa que não ponha algo acima de si própria, acima dos outros e acima dos seus sentimentos é alvo de insultos e desprezo. No entanto... sinto-me muito mais seguro e confortável na companhia daqueles a quem falta essa lealdade superior, que nunca põem uma abstracção acima das suas preocupações com os que lhe são próximos. E que só se virarão contra mim devido a qualquer coisa que eu tenha feito e não em nome de um dogma, crença ou ideal.

Mais ainda: elas são as únicas pessoas em quem confio. Por outro lado nunca confiaria num líder religioso ou político, num soldado ou num nacionalista, nem mesmo num crente ou num militante ou num patriota oficial porque sei que qualquer deles estaria pronto a trair-me ou sacrificar-me.
Se chegássemos a esse ponto, eles seriam os vassalos e apoiantes incondicionais daquilo que puseram acima de tudo o resto, mesmo que desaprovem o comportamento dos que encarnam esse ideal. Esse sentimento está tão difundido que acho que não há quase ninguém em quem possa confiar. Visto por esse prisma, o leitor também verá - se pensar nisso, olhar para trás ou tentar recordar - como são muito poucas as pessoas em quem pode confiar.

Javier Marías é dos mais importantes escritores espanhóis da actualidade. Filho do filósofo Julián Marías Aguilera, nasceu em Madrid a 20 de Setembro de 1951. Aos 17 anos publicou o seu primeiro conto num jornal de Barcelona. Colunista do diário “El País”, escreveu romances como “Coração tão Branco” ou “Amanhã na Batalha Pensa em Mim”.

Jornal i

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Julgai e estai preparado para serdes julgado

O preceito " Não julgueis para não serdes julgados" é uma abdicação de responsabilidade moral: é um cheque moral em branco que uma pessoa dá aos outros em troca de um cheque moral em branco que uma pessoa espera receber para si própria. Não há fuga possível ao facto de os homens terem de fazer escolhas, não há fuga possível aos valores morais; desde que os valores morais estejam em jogo, não é possível uma neutralidade moral. Abstermo-nos de condenar um carrasco é tornarmo-nos cúmplices da tortura e assassínio das suas vítimas. O Princípio moral a adoptar é: "Julgai e estai preparado para serdes julgado."
Ayn Rand

Na verdade, o que Jesus disse por inteiro foi:

-Não julgueis para não serdes julgados.
Pois, conforme o juízo com que julgardes, assim sereis julgados; e, com a medida com que medirdes, assim sereis medidos.
Por que reparas no argueiro que está no olho do teu irmão, e não vês a trave que está no teu olho?
Como ousas dizer ao teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, tendo tu uma trave no teu?
Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho e então verás bem para tirar o argueiro do olho do teu irmão.(Mateus 7:1-5)

Rand interpretou Jesus de forma completamente errada. O princípio que Ele exalta não é a neutralidade moral ou um cheque moral em branco, e sim um aviso contra a severidade hipócrita e os "julgamentos precipitados." Há uma longa tradição nesta linha de pensamentos sobre leis e costumes Judaicos chamada Mishnah: "Não julgueis o vosso semelhante até vos encontrardes na posição dele" (Aboth 2:5); "Quando julgardes qualquer homem, carregai a balança a favor dele" (Aboth 1:6)
Em: POR QUE ACREDITAM AS PESSOAS EM COISAS ESTRANHAS
( Pseudociência, Superstições e outras Confusões do nosso tempo)
De Michael Shermer, da Editora Replicação, Lda

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

O Fardo do Cepticismo


Parece-me que o que é preciso é um equilíbrio delicado entre duas necessidades em conflito: o escrutínio mais céptico de todas as hipóteses que se nos deparam e, ao mesmo tempo, uma grande abertura a novas ideias. Se formos apenas cépticos, as novas ideias não chegam até nós. Nunca aprendemos nada de novo. Tornamo-nos nuns velhos caprichosos, convencidos de que os disparates governam o mundo. (Há, evidentemente, muitos dados que apoiam esta teoria.)
Por outro lado, se formos abertos a ponto de sermos ingénuos e não tivermos nenhum sentido céptico, não somos capazes de distinguir as ideias úteis das ideias sem valor. Se todas as ideias tiverem igual validade, ficamos perdidos, porque então, segundo me parece, nenhumas ideias terão qualquer validade.

Carl Sagan, Pasadena,1987
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...