Um
especialista mundial em nutrição acusa as organizações internacionais
de saúde de cederem aos interesses da indústria ao ponto de elaborarem
uma pirâmide alimentar e recomendarem alimentos que nem sempre são os
melhores para evitar doenças, avança a agência Lusa, citada pelo
Notícias ao Minuto.
Colin Campbell, pela primeira vez em Portugal, é um bioquímico norte-americano especialista em nutrição na saúde e autor do Estudo da China ("The China Study"), o maior estudo epidemiológico sobre o efeito da alimentação e estilo de vida na saúde.
Convidado
como orador principal, esta quarta-feira, num seminário sobre nutrição,
subordinado ao tema "Factos e mitos", promovido pelo Ministério da
Saúde e pelo Instituto Macrobiótico de Portugal, Colin Campbell diz que o
principal mito que subsiste "tem a ver com o facto de as pessoas
continuarem a olhar para a carne como a principal fonte de proteínas".
"Isso
está errado. Uma alimentação rica em verduras e legumes também fornece
proteínas", disse, em entrevista à Lusa, o defensor de uma dieta
completamente isenta de carne, peixe e lacticínio
Uma
das conclusões fundamentais que emanam do seu estudo, publicado em
2005, é que o "principal problema de saúde está associado aos
lacticínios e ingestão de carne", uma afirmação que considera "válida"
quase quinze anos depois, disse à Lusa.
De
acordo com este estudo, que produziu mais de 8.000 associações
significativas entre diversos factores alimentares e várias doenças, o
consumo de carne, peixe e derivados de leite é responsável por doenças
degenerativas modernas, como o cancro e a diabetes.
Questionado
sobre por que motivo então as conclusões do seu estudo nunca foram
aplicadas a nível mundial na alimentação e acatadas pelas associações
ligadas à saúde, designadamente a OMS e organizações relacionadas com as
doenças degenerativas, Colin Campbell escuda-se na força dos lobbys da
industria alimentar.
"Não
podemos esquecer que a Pirâmide alimentar que vemos é ditada por uma
série de factores, sendo um dos principais a influência de determinados
sectores da indústria alimentar. Os lobbys paralelos que existem,
ligados aos sector alimentar, são fortes, poderosos e continuam a ditar
as regras gerais da alimentação, incluindo o que se inclui na Pirâmide
Alimentar", afirma.
Sobre
a importância para a saúde, nomeadamente para o reforço do sistema
imunitário, dos bacilos vivos contidos nos iogurtes, Colin Campbell
reconhece que "os iogurtes têm mais benefícios do que o leite", mas
sublinha que "esses benefícios não são suficientes para que o iogurte
substitua o valor dos legumes na comida vegetariana".
Quanto
aos chamados peixes azuis, que cada vez mais estudos consideram
fundamental para a saúde cardiovascular e o combate a doenças como o
cancro, o responsável reconhece igualmente alguma importância, mas
descarta-os como necessários.
"O
peixe é, sem dúvida, o que tem melhor ratio - se comparado com a carne -
de Omega 3 e Omega 6. Contudo, podemos substituir o peixe por outros
alimentos, como sementes e vegetais, que também nos conferem esses
benefícios", explicou.
Confrontado
com os vários estudos recentes que apontam cada vez mais para a
importância do consumo de carne branca, peixe e lacticínios,
contrariando as teses que resultam do Estudo da China, Colin Campbell
aponta novamente o dedo à indústria alimentar e ao seu peso na
determinação das regras gerais da alimentação.
Segundo
o especialista norte-americano, a Associação Americana de Dietistas,
uma das principais em todo o mundo, tem o controlo dos currículos das
pessoas que depois aconselham todas as outras em termos alimentares
(isto na realidade americana), sendo que estas associações "são, na sua
maioria, co-financiadas pelas grandes empresas de bebidas, farmacêuticas
e alimentares".
"Ora,
isto acaba por ser uma bola de neve de informação, se o ponto inicial -
a Associação - sobrevive através dessas empresas, então a formação que
passam vai muito ao encontro do que essas empresas pretendem. Como
sabemos, pouco mudou em termos do que são as regras gerais alimentares,
tendo em conta que muito mudou em termos de estudos e dados
apresentados. A maioria das regras alimentares é financiada pelas
empresas que produzem esses alimentos", acusou.