terça-feira, 24 de maio de 2011

Terra 'afunda' em Lisboa e Alverca

Duas zonas da Grande Lisboa - uma perto da estação de metro das Laranjeiras, na capital, e outra na vila de Vialonga (Vila Franca de Xira) - estão a afundar-se alguns milímetros por ano, revela um estudo internacional, que conta com a participação, pela parte portuguesa, de cientistas do Instituto Superior Técnico (IST) e do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC).

   Extracção de águas subterrâneas explica abatimento das terras em Alverca (Foto: Daniel Rocha, in Público)
 Embora não seja grave por agora, o fenómeno pode vir a ter consequências como danos nas casas, em esgotos, linhas de abastecimento de água, electricidade e gás, estradas e caminhos-de-ferro.

A descoberta na Grande Lisboa, num projecto europeu iniciado em 2004 para detectar a deformação do terreno em diferentes cidades europeias através de imagens de satélite, revelou-se uma surpresa. É a primeira vez que o afundamento do solo - ou subsidência - é detectado numa zona urbana em Portugal, escreve a equipa de cientistas num artigo publicado, na terça-feira, na edição online da revista Remote Sensing of Environment. "Como era uma situação com impacto, levámos mais tempo a confirmar", conta Sandra Heleno, geofísica do IST e primeira autora do artigo. "Só quando estávamos convencidos de que a subsidência estava mesmo a acontecer é que publicámos [os resultados]."

Os dados indicam que é na zona de Vialonga - por onde passam as duas principais ligações terrestres entre Lisboa e o Porto, a Auto-Estrada n.º 1 (A1) e a Linha do Norte da CP - que o afundamento tem sido mais intenso. Dentro da zona afectada ficam as portagens da A1 em Alverca.

Entre 1992 e 2003, o solo afundou-se, em média, 13 milímetros por ano em Vialonga - o que dá cerca de 15 centímetros nesses 11 anos, na parte mais afectada. Outros dados para Vialonga indicam que a velocidade do fenómeno, entre 1992 e 2006, foi de nove milímetros por ano, em média - o que significa que, nesses 14 anos, a zona se afundou cerca de 13 centímetros.

"O facto de Vialonga ser uma zona atravessada por linhas importantes, como a auto-estrada e a ferrovia, e por ser mais próxima do Tejo, em que o risco de inundações pode agravar-se com a subsidência, mostra como é importante dar atenção ao problema", diz Sandra Heleno. "Mas não quero causar alarme."

Águas subterrâneas

Para Vialonga, uma zona industrializada, a equipa conseguiu determinar a causa do problema: a exploração em excesso de águas subterrâneas. "Várias fábricas, de empresas internacionais de bebidas, de produtos químicos e agrícolas, operam na região. Geralmente, estas indústrias têm consumos elevados de água", escreve a equipa, acrescentando que as três empresas mais importantes gastam, pelo menos, nove milhões de metros cúbicos de água por ano.

Em 27 anos, o nível das águas subterrâneas na zona de Vialonga baixou 65 metros. "Encontrámos uma relação espacial entre o fenómeno da subsidência e a diminuição do nível da água em furos", realça Sandra Heleno. "A descida da água nos furos indica diminuição da pressão nas camadas geológicas que armazenam a água subterrânea, e esta diminuição de pressão é que causa o afundamento do solo", explica a geofísica.

Em relação à cidade de Lisboa, é perto da estação de metro das Laranjeiras que o afundamento do solo é mais acentuado. Entre 1992 e 2006, a uma média de seis milímetros por ano, atingiu os oito centímetros. Mais lento do que nas Laranjeiras, ao ritmo de quatro milímetros por ano, o fenómeno também afecta a zona da cidade universitária. "Em Lisboa, não classificaria a subsidência como grave. É uma situação em que é necessário dar atenção, quando ainda é possível aplicar medidas de redução do risco de forma atempada", diz a investigadora.

Combate ao problema

Na cidade de Lisboa, o abatimento do solo tem abrandado nos últimos anos. Entre 2003 e 2010, as Laranjeiras passaram a afundar-se à velocidade de cerca de dois milímetros por ano, refere Sandra Heleno, que já apresentou estes resultados numa conferência internacional. "É uma boa notícia."

Desconhece-se a razão por que Lisboa está, naquela zona, a abater mais lentamente, tal como se desconhece sequer a causa do fenómeno em si. A hipótese de que as construções estariam na origem do problema, provocando a compactação das camadas superficiais do terreno, não foi confirmada. "Não encontrámos uma relação entre a evolução da construção desde o início dos anos de 1980 e a subsidência."A hipótese da exploração excessiva das águas subterrâneas vai agora ser estudada no caso da capital - "embora seja menos provável, por não ser uma zona industrial", diz a geofísica.

Tanto em Lisboa como em Vialonga, a área total afectada anda à volta de seis quilómetros quadrados (à volta de 800 campos de futebol). "Estas zonas têm de ser monitorizadas, agora que não temos qualquer dúvida de que há subsidência."

O LNEC considerou vários cenários para evitar o agravamento do problema. "Um dos cenários era a paragem completa da extracção de água na zona de Vialonga em 2010. Haveria um abrandamento da subsidência em 2015", refere Sandra Heleno.

O problema na Grande Lisboa junta-se assim ao de outros casos mundiais, como Las Vegas, Los Angeles, Seattle ou Bolonha. O mais paradigmático é o da Cidade do México, que se afunda quase meio metro por ano.

A Cidade do México fica num gigantesco vale onde outrora existiam vários lagos. A cidade hoje com mais de 20 milhões de habitantes enfrenta muitos problemas com a drenagem da água especialmente na época das chuvas.
O centro político/religioso da Cidade do México foi construído sobre onde existiu durante a civilização Asteca o grande templo de adoração ao sol. Todas as construções pré colombianas foram destruídas para dar lugar a igreja de Guadalupe e o Palácio do Governo e ministérios que ficam em volta de uma grande praça chama de Zócalo.

Mais impressionante foi o que aconteceu no ano passado na Guatemala.
As noticias em Abril do ano passado:
 As autoridades guatemaltecas estão investigando a cratera gigante que se abriu no meio de um cruzamento da capital do país, Cidade da Guatemala. No início, as autoridades anunciaram que as fortes chuvas causadas pela tempestade tropical Agatha teriam causado o buraco que engoliu um prédio de três andares, mas somente um estudo mais aprofundado irá determinar o que pode ter ocorrido.

No último mês de Abril, uma outra cratera de grandes proporções também se abriu na região matando três pessoas.
As autoridades da Defesa Civil da Guatemala elevaram nesta segunda para 113 o número de mortos como consequência da depressão tropical Agatha, enquanto o número de desaparecidos chega a 54. Alejandro Maldonado, diretor da Coordenadoria Nacional para a Redução de Desastres (Conred), disse aos jornalistas que 59 pessoas sofreram ferimentos graves.
No entanto, as equipe de resgate, autoridades locais e moradores reportaram às rádios locais que encontraram corpos em meio aos escombros de casas que desabaram e soterradas por deslizamentos de terra provocados pelas chuvas. O relatório da Conred informa que 111.964 pessoas foram retiradas de suas casas, 29.245, transferidas para albergues temporários e 21.465 estão em regiões consideradas de risco.
 Fontes: Jornal 'Público' e 'Google'.

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